AS IRMÃS FOX

Colaboração.: Tadeu Magalhaes.
AS IRMÃS FOX
(Da esquerda para a direita: Margaret, Kate e Leah)

OS PRECURSORES DA DOUTRINA ESPÍRITA

ANN LEAH UNDERHILL
THE MISSING LINK IN MODERN SPIRITUALISM
(OBRA RARA SOBRE AS IRMÃS FOX)

Leah Fox (1814 – 1890) foi, juntamente com Kate e Margaret, uma das meninas que, naquele vilarejo humilde do interior de Nova Iorque, deram início a toda uma era marcada pelo intercâmbio incessante entre duas realidades, entre dois mundos que sempre existiram, que nunca deixaram de se comunicar, mas que a partir do advento de homens como Emmanuel Swedenborg e Andrew Jackson Davis passaram a perceber que mantinham entre si uma correlação tão necessária a um como a outro, tal qual sucedeu ao mundo intra-atômico e ao macroscópio, após as experiências pioneiras de Thomson e Rutherford.
No entanto, assim como no mundo das ciências experimentais há sempre quem seja, a um tempo, autor e vítima das próprias descobertas, no mundo das ciências psíquicas toda revelação traz consigo uma recompensa e um preço a ser pago. Basta lembrar que uma das mais célebres estudiosas da radioatividade – Marie Curie – padeceu de Leucemia pelos efeitos danosos do mesmo Rádio que lhe deu prestígio perante as assembléias científicas do mundo inteiro. Não ocorreu de forma diversa com as irmãs Fox, as precursoras do Espiritismo, pelo qual se celebrizaram e pelo qual carregaram, até o fim da vida, a pesada cruz, a mesma cruz que tem estado presente em todas as Revelações...
Margaret e John Fox eram um casal de fazendeiros, de religião metodista, que havia se mudado, com duas filhas, para um rústico casebre de madeira no vilarejo de Hydesville.
Uma descrição do periódico Fanciful da chegada dos espíritos na Casa Fox em Hydesville nos Estados Unidos aonde marca o início da Doutrina Espírita.
Tinham outra filha – Leah Fox –, mais velha que as duas primeiras, que ensinava música em Rochester, cidade a vinte milhas de Hydesville.
Durante meses a honesta e humilde família viveu em paz na casa que lhes fora designada para morar e, outrossim, para cumprir sua missão.
No entanto, ruídos de origem inteiramente desconhecida – Kardec iria explicá-los mais de uma década depois - começaram a irromper, cada vez mais intensos e mais inexplicáveis, a ponto de impedirem a família Fox de dormir.
Casa da Família Fox
28 de março de 1848
Hydesville, Estados Unidos da América
Mas tudo mudou na noite do dia 31 de Março – dia do ano bastante especial para o Espiritismo, por também ter sido justamente aí tanto o nascimento de Eusapia Palladino, uma das maiores médiuns da História, quanto o desencarne daquele professor de Lyon a quem todos, hoje, atribuímos o epíteto de Codificador da Terceira Revelação.
Nesse dia, a filha de 9 anos – Kate Fox – desafiou os misteriosos ruídos a irromperem em igual número aos barulhos que ela própria faria com os dedos, suspeitando estar por trás deles uma inteligência que, similar à sua, seria capaz de efeitos tão inteligentes e voluntários quantos os seus.
O caro leitor já deve estar prevendo o resultado: esta história não estaria sendo aqui hoje narrada se não tivesse se revelado um agente inteligente invisível e incorpóreo nesse dia, ao qual Kardec deu o nome de Espírito dez anos mais tarde.
Daí em diante, cada vez mais evoluíram os processos de comunicação entre os dois mundos.
De início, dirigiam-se ao Espírito perguntas cujas respostas eram numéricas. O número de batidas a revelaria.
Por esse método, a sra. Fox foi lembrada de um filho seu, do qual não mais se recordava, que havia morrido em tenra idade.
Depois, inquiria-se o tal Espírito e convencionava-se para cada número de batidas uma resposta, “sim” ou “não”, às perguntas que lhe eram formuladas.
Por esse caminho, mrs. Redfield viu seus próprios fatos íntimos serem revelados acertadamente a si mesma e aos demais presentes.
Depois, passava-se a associar a cada número de batidas seguidas uma letra do alfabeto, e por esse meio desfilavam, com vida própria, diante dos olhos esbugalhados do ceticismo mensagens e livros completos.
Era o início do Telégrafo Espiritual, que unia o continente dos encarnados ao dos desencarnados, como a invenção de Morse uniu o Novo ao Velho mundo.
As coortes cépticas de todos os Estados Unidos da América esbravejavam contra o desvelo da nova realidade, que se insinuava mais e mais, dia após dia, ano após ano.
A família Fox era vítima de toda sorte de calúnia e perseguição. A sra. Fox ficou grisalha em não menos que sete dias.
Foram convidadas as duas irmãs, em três ocasiões distintas, a demonstrarem seus hábeis talentos à luz do dia, coram populo, sem nada ocultar por debaixo dos alqueires do medo e da mendacidade. Jamais o recusaram, por pior que fosse a humilhação pela qual fossem passar.
As Irmãs Fox
Margaret, Kate e Leah (1850)
Despidas, amarradas por suas próprias vestes, amordaçadas, imobilizadas, os sons de arranhadura e do arrastar de móveis, os mesmos lá da casa de Hydesville, continuaram a se desenvolver, por onde quer que elas passassem.
Amedrontadas, desamparadas, sem rumo algum, foram as meninas Kate e Margaret conclamadas pelos próprios Espíritos que lhes assistiam a persistirem em sua missão reveladora.
Passaram, então, a viajar incessantemente, sem direito a férias remuneradas nem décimo terceiro, por todos os estados aos quais eram chamadas a expor seus dons únicos.
Passavam-se os anos, e os jornais do Novo e do Velho mundo não as paravam de noticiar.
Kate, por incentivo moral e econômico do Sr. Livermore, banqueiro de Nova Iorque, viajou a Inglaterra. Visitada pelos notáveis investigadores Butlerof e Aksakof, tão caros aos pesquisadores psíquicos atuais, ofereceu para o renomado William Crookes obejetos materializados que emitiam luz, para Benjamin Coleman documentos advindos de prodigiosa xenoglossia e para Cromwell Varley, ínclito eletricista, experiências inéditas de produção de eletricidade.
Não obstante a carreira mediúnica internacional que vinham desenvolvendo até então, as meninas Fox, agora mulheres casadas, não estiveram livre dos escândalos que acometem todos os que se tornam, repentinamente, celebridades, ainda mais quando a fama provém de dons que prometem pôr um ponto final na mais intricada das indagações do Homem: se existe vida após a morte.
Sabia-se que Kate era uma vítima, até certo ponto, do alcoolismo. Por esse motivo, sua irmã mais velha – Leah -, de cuja autoria é este livro ora apresentado ao público pelo site, quis mover um processo judicial para afastá-la dos dois filhos, sob acusação de que ela não era responsável o bastante para exercer a maternidade
Kate, indignada com a atitude da irmã, voltou-se contra ela em acusações sem fim pelos jornais e tribunais, no que era seguida por Margaret. E na procura insistente por uma arma com a qual pudessem ferir Leah, acabaram por apontar suas miras para algo que, no ver delas, lhes havia trazido bem mais desventuras que alegrias: o Espiritismo.
Renegaram a veracidade de todos os fenômenos paranormais que produziam, negando mesmo que pudessem produzir algum.
Os olhos dos detratores do Espiritismo, por décadas e décadas sem brilho, passaram a ostentar com a declaração de Kate e Margaret um fulgor similar aos do predador quando avista, de longe, a presa errante.
Mas a presa escapou: as meninas se pacificaram e Margaret desmentiu tudo em uma entrevista, com uma convicção tal que um ministro estadunidense, testemunha ocular do depoimento, disse: “Se alguma vez vi alguma mulher dizer uma verdade, foi nessa ocasião”.
Kate e Margaret morreram durante a última década do século XX e tiveram um fim triste e nebuloso.
O livro ora apresentado foi, na verdade, escrito por um amigo de Leah Fox, a quem ela forneceu inúmeros documentos para tal elaboração, sendo sido por ela, depois revisado. Sobre “The missing link”, diz Arthur Conan Doyle, em quem baseamos inteiramente nossa narrativa biográfica: “Pode-se dizer que o livro dá uma forte impressão de candura e de bom senso e, como descrição pessoal de quem esteve tão envolta nos momentâneos acontecimentos, está destinado a sobreviver à maioria dos livros comuns e a ser lido com maior atenção e mesmo com respeito pelas gerações futuras.”
A vida das irmãs Fox encerra uma grande lição para todos os espíritas, especialmente para aqueles que receberam de Deus a missão de interpor-se entre as duas esferas da existência: a responsabilidade com o próprio comportamento é o que há de primordial em toda conduta mediúnica. Os resultados da não-observação desse ponto é absolutamente irreversível, e disto temos a experiência viva de inúmeros médiuns, estrangeiros e brasileiros, além dessas irmãs que, dia após dia, foram sendo assediadas pela fama, pelas tentações dela advindas e não só uma vez a elas cederam. Mas o Soberanamente Justo e Bom soube, a despeito das complicações até certo ponto inevitáveis, lhes dar o mérito por erguer de uma vez por todas o véu existente entre este mundo e o próximo.
Tradutor - André Luís Q. de Paiva

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